Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) e dados de sociedades científicas, no Brasil, entre 8% e 15% dos casais têm algum problema de infertilidade. Pode-se considerar infertilidade quando a mulher não consegue engravidar mantendo relações sexuais regularmente e sem usar nenhum método de contracepção por 12 meses. Entre as diversas causas da infertilidade – hormonais, disfunções no aparelho reprodutor, endometriose, entre outros –, a obesidade requer atenção, tanto em homens quanto em mulheres, pois seu tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar.
Quando as tentativas de engravidar ultrapassam um ano, o casal deve buscar ajuda de um especialista em fertilização e realizar exames a fim de encontrar o diagnóstico (alguns casais apresentam mais de uma causa de infertilidade). É importante que ambos busquem ajuda, pois em torno de 20% dos casos de infertilidade, os dois apresentam algum problema. O tratamento, muitas vezes, envolve médicos de diversas especialidades e outros profissionais.
A OBESIDADE E A INFERTILIDADE: CONSEQUÊNCIAS E TRATAMENTOS
Relatos médicos a respeito dos efeitos nocivos da obesidade no organismo humano existem desde a Antiguidade Clássica, em escritos de Hipócrates e Galeno. Os problemas relacionados à obesidade e ao sobrepeso são muitos, incluindo doenças graves como hipertensão arterial e câncer. Entre esses problemas, a infertilidade associada à obesidade passou despercebida durante muitos anos, porém, nas últimas décadas, muitos estudos lançaram luz sobre o assunto e levaram a um melhor entendimento a respeito do funcionamento e dos novos tratamentos possíveis.
O parâmetro mais utilizado para classificar o peso é IMC (Índice de Massa Corporal), um cálculo entre peso e altura do indivíduo. O IMC ideal é entre 18 e 24,9. Acima de 25, é caracterizado sobrepeso; IMC maior que 30 determina obesidade; e acima de 40, é classificado como obesidade mórbida.
Obesidade e infertilidade em homens
Estima-se que um a cada 20 homens apresente algum problema de infertilidade. O peso interfere diretamente na produção (quantidade, mobilidade e qualidade) de espermatozoides e na qualidade (pH e concentração) do esperma, pois altera os níveis de hormônio: menor produção de testosterona, que pode causar perda da libido e dificuldade de ereção, e aumento do estradiol, que afeta os espermatozoides.
Quanto maior o sobrepeso ou obesidade, menor é a qualidade do esperma. Comparada à de um homem saudável, a concentração de espermatozoides em um com sobrepeso é cerca de 10% menor, podendo chegar a 20% em homens obesos. Além da quantidade, a mobilidade dos espermatozoides também é inferior.
Obesidade e infertilidade em mulheres
Do mesmo modo que a obesidade interfere na produção hormonal dos homens, também prejudica os hormônios femininos. O excesso de gordura atrapalha tanto a produção quanto a metabolização do estrogênio, acarretando em problemas de ovulação. A SOP (Síndrome do Ovário Policístico) é mais comum em mulheres acima do peso ideal, que também apresentam mais disfunções nas tubas uterinas e no endométrio. A qualidade ou ausência de óvulos é uma consequência das disfunções hormonais causadas pelo sobrepeso.
Além da infertilidade, mulheres obesas têm três vezes mais complicações obstétricas que as sadias e o dobro de risco de aborto espontâneo e de prematuridade. E no pós-parto, a obesidade ainda pode causar ou agravar síndrome metabólica, doenças cardíacas e diabetes, segundo dados do estudo Female obesity: short- and long-term consequences on the offspring. O estudo afirma, ainda, que filhos de mães com sobrepeso ou obesidade têm 40% mais chances de sofrerem com excesso de peso que bebês de mulheres com IMC abaixo de 27.
Tratamentos para infertilidade em mulheres com sobrepeso ou obesidade
Antes de iniciar quaisquer tratamentos para infertilidade, é preciso que a paciente se submeta a um programa de emagrecimento com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, preferencialmente.
A prática de exercícios físicos regulares e a adoção de uma dieta equilibrada são fundamentais para uma perda de peso saudável. Caso haja indicação de medicamentos, a paciente deve comunicar imediatamente ao obstetra.
Mulheres que fazem uso do balão intragástrico não devem engravidar durante o tratamento. As que submeteram à endosutura gástrica devem esperar o período de adaptação e o fim do uso de medicamentos. Já as mulheres que fizeram cirurgia bariátrica precisam esperar o organismo se adaptar às novas condições nutricionais e a normalização da absorção de nutrientes. O ideal é que o gastroenterologista mantenha um canal de comunicação com o obstetra para que, juntos, determinem o melhor para a paciente.