O consumo excessivo de bebidas alcoólicas está relacionado ao surgimento / agravamento de doenças graves, além de causar transtornos comportamentais. O alcoolismo é a terceira maior causa de mortes no mundo – está relacionado a 2,5 milhões de mortes ao ano –, por isso, é considerado epidemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
Bebidas alcoólicas são drogas legalizadas, e seu consumo recreativo é bem aceito socialmente e incentivado em publicidades – por ano, mais de um bilhão de reais são investidos em propagandas de bebidas por ano no Brasil, 80% desses comerciais são de cerveja –, entre amigos e até na família. Mesmo quem “bebe socialmente” pode vir a desenvolver problemas relacionados ao consumo de álcool, no entanto, é preciso definir quando o consumo se torna excessivo e quando é considerado alcoolismo.
O NIAAA (Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo) dos Estados Unidos estimou que o consumo aceitável de bebidas alcoólicas é de até 14 doses por semana ou 4 em um dia para homens com menos de 65 anos, e de 7 doses por semana ou 3 em um dia para mulheres de qualquer idade (acima dos 18 anos) e homens com mais de 65. Já o Inca (Instituto Nacional de Câncer) determina que não se deve ultrapassar a ingestão de 2 doses (homens) e 1 dose (mulheres) por dia.
De acordo com o estudo Risky drinking and alcohol use disorder: Epidemiology, pathogenesis, clinical manifestations, course, assessment, and diagnosis, somente nos Estados Unidos, mais de 85.000 mortes por ano no país são diretamente atribuídas ao uso de álcool; e cerca de 15 mil mortes no trânsito são relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas, o que representa 40% das mortes nas rodovias e estradas.
QUANDO O CONSUMO DE ÁLCOOL LEVA AO ALCOOLISMO
Para ser considerada doença, é preciso associar três ou mais fatores associados à ingestão de álcool, listados a seguir.
– Aumento da tolerância a bebidas alcoólicas, ou seja, a necessidade de ingerir cada vez mais doses antes de se sentir embriagado;
– Crises de abstinência ou desconfortos quando não está sob efeito da substância;
– Descontrole, isto é, beber mais do que se predispôs antes de começar;
– Passar dias seguidos pensando em beber, bebendo ou se recuperando dos efeitos do álcool;
– Perder compromissos ou negligenciar tarefas;
– Continuar a beber mesmo após reconhecer que tem problemas físicos e/ou psicológicos relacionados ao álcool;
– Ter problemas legais e/ou interpessoais por causa de embriaguez;
– Beber mesmo em situações que coloquem a si próprio ou a terceiros em risco, como antes de dirigir.
O CONSUMO EXCESSIVO DE ÁLCOOL E DOENÇAS CORRELACIONADAS
O álcool é um fator significativo para muitas doenças. Comorbidades médicas e psiquiátricas comuns associadas ao consumo de álcool incluem:
- Hipertensão;
- Doença cardiovascular;
- Doença hepática;
- Pancreatite;
- Gastrite;
- Esofagite;
- Supressão da medula óssea;
- Neuropatia periférica;
- Doenças infecciosas crônicas;
- Pneumonia;
- Cânceres, como de boca, de esôfago, de garganta, de fígado e de mama;
- Doenças depressivas;
- Distúrbios de ansiedade;
- Transtorno de estresse pós-traumático;
- Transtornos alimentares;
- Distúrbios do sono;
- Estado de coma ou desmaios.
O SISTEMA GÁSTRICO É O QUE MAIS SOFRE COM A INGESTÃO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS
Os órgãos mais afetados pelo consumo excessivo de álcool – em curto e médio prazo, principalmente – são os do sistema gástrico (além do fígado e do cérebro).
No esôfago, o consumo constante de álcool está associado à Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), pois relaxa o esfíncter inferior do esôfago, facilitando o contato do ácido gástrico com a mucosa do órgão. No estômago, por seu caráter irritante, o álcool pode causar uma série de alterações morfológicas e funcionais, pois interfere na produção de suco gástrico, na absorção dos nutrientes, na mucosa e no epitélio, induzindo o surgimento de úlceras. Já no intestino, prejudica o funcionamento do órgão, enfraquecendo o sistema imune não específico; causa má absorção dos nutrientes e diarreia; diminui os níveis de ácido fólico, podendo levar à displasia de cólon, entre outros problemas.
Além disso, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas está relacionado ao aumento do número de câncer nos órgãos do trato digestivo.